Condenação de Bolsonaro gera divergências entre líderes evangélicos

Divisão entre Líderes Evangélicos Após a Condenação de Bolsonaro

A recente condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) gerou um intenso debate entre as lideranças evangélicas no Brasil. Com uma pena de mais de 27 anos de prisão, a decisão judicial, relacionada ao caso conhecido como “trama golpista”, provocou uma diversidade de reações no seio da comunidade cristã, refletindo diferentes perspectivas sobre o futuro da igreja e sua relação com a política.

A União em Torno da Direita

Alguns pastores acreditam que a condenação de Bolsonaro pode, paradoxalmente, fortalecer a direita política e unir os fiéis em torno de um novo candidato para as eleições de 2026. O pastor Jorge Linhares, presidente da Igreja Batista Getsêmani, em Belo Horizonte, expressou uma visão otimista. Ele considera que, mesmo que a prisão de Bolsonaro tenha sido um acontecimento previsível, isso poderá consolidar a força dos evangélicos. Segundo Linhares, “ele seria preso nem que fosse apenas um dia, apenas para manchar a imagem dele. Contudo, isso poderá unir ainda mais os evangélicos em torno de um nome forte que possa substituí-lo nas próximas eleições”. Essa perspectiva sugere que, apesar das dificuldades, há uma esperança de renovação e mobilização entre os fiéis.

Linhares também destacou que a influência política dos evangélicos é reconhecida por setores estratégicos da sociedade, incluindo a mídia. Ele citou a Rede Globo como um exemplo de veículo que estaria ajustando sua abordagem para se conectar melhor com o público cristão, demonstrando a relevância crescente da comunidade evangélica no cenário nacional.

O Fim da Imagem de “Salvador da Pátria”

Por outro lado, nem todos compartilham da mesma visão. O pastor Álvaro Oliveira Lima, presidente da Convenção Evangélica dos Ministros das Assembleias de Deus no Espírito Santo, argumenta que a condenação pode sinalizar o fim da imagem de Bolsonaro como líder incontestável entre os evangélicos. Ele afirma que a associação do ex-presidente com a fé cristã “virou só mesmo uma retórica que não resultou em nada positivo para o povo de Deus”. Em sua avaliação, muitas igrejas estão optando por uma atuação mais neutra e focada na missão espiritual, em vez de se envolverem ativamente na militância política.

A Credibilidade em Jogo

O teólogo e pastor Rodolfo Capler, pesquisador da PUC-SP, adotou um tom mais crítico em relação à situação. Para ele, a condenação de Bolsonaro compromete a reputação pública dos evangélicos. Capler declarou que o “candidato dos evangélicos” não poderia ser associado a um caso de tamanha gravidade, considerando-o um “escândalo histórico e teológico”. Ele argumentou que, embora a missão da igreja permaneça inalterada e fundamentada em Cristo, a credibilidade pública dos evangélicos foi severamente abalada.

Capler também relaciona a estagnação no crescimento dos evangélicos, conforme apontado pelo IBGE, à crescente polarização política e à hostilidade que diversos fiéis enfrentam dentro das próprias igrejas por terem opiniões divergentes. Essa dinâmica interna pode estar contribuindo para um ambiente de divisão, dificultando a unidade entre os cristãos.

A Confiança em Deus e o Caminho a Seguir

Em meio a essas tensões, o pastor Lisaneas Moura, da Primeira Igreja Batista do Morumbi, ressalta a importância de manter a serenidade e a fé neste momento conturbado. Ele enfatiza que parte da fé cristã é confiar que Deus tem o controle das situações, inclusive nas esferas política e social. “Mesmo quando discordamos, precisamos resolver confiar em Deus”, afirmou, destacando que os cristãos devem se manifestar, mas sempre respeitando as leis e as autoridades.

Um Cenário em Disputa

As reações em relação à condenação de Bolsonaro evidenciam uma divisão significativa entre os evangélicos. Enquanto alguns defendem a continuidade da militância política, outros advogam por uma abordagem mais espiritual, afastando-se das disputas partidárias. O dilema que se apresenta agora à comunidade evangélica é qual direção seguir: unir-se em torno de uma nova liderança política ou focar nas questões espirituais que são o cerne da sua missão.

Este momento de incerteza e reflexão poderá moldar o futuro da igreja evangélica no Brasil e sua relação com a política, exigindo uma análise cuidadosa das prioridades e da identidade cristã em um contexto cada vez mais polarizado.

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