
Por que a Palavra de Deus resiste onde nossas verdades falham?
A intimidade com Deus permite que o cristão reconheça sua vulnerabilidade e encontre esperança para continuar lutando contra o pecado.
A cultura contemporânea tem promovido a ideia de que cada indivíduo deve construir sua própria verdade. Contudo, apenas as Escrituras oferecem um fundamento sólido quando a vida parece desmoronar. Frases como “Encontre a sua verdade” são comuns em discursos motivacionais, redes sociais e conselhos cotidianos. À primeira vista, essa ideia pode parecer libertadora, pois enfatiza a importância da autoexpressão e da autenticidade. No entanto, conforme o pastor e psicólogo clínico David Zucolotto observa, quando a autoexpressão se torna a única base de autoridade, um aspecto essencial se perde: “Se cada um tem a sua verdade, a própria verdade se dissolve”.
Zucolotto destaca que a noção de “verdade pessoal” começa como um convite à honestidade, mas rapidamente se transforma em uma exigência para que cada indivíduo construa sua visão de mundo baseada em experiências pessoais. Ele compara essa situação a um navio que navega apenas olhando para o reflexo na água: “Mais cedo ou mais tarde, ele encalha”. O problema não reside na expressão da subjetividade, mas na pressão insustentável de ancorar toda a realidade na identidade individual. No momento em que a vida desmorona – e isso sempre acontece – não é suficiente apenas ter uma voz; é preciso ter uma âncora.
Uma verdade além de nós
É nesse contexto que as Escrituras se apresentam não como folclore ou moralismo, mas como uma verdade objetiva, enraizada fora do ser humano. A confiabilidade histórica da Bíblia é bem documentada, com milhares de manuscritos preservados e descobertas arqueológicas que corroboram relatos e profecias que desafiam a lógica das probabilidades. No entanto, Zucolotto enfatiza que o que realmente impressiona não é apenas a solidez acadêmica. “A Bíblia é não só historicamente verdadeira, mas também existencialmente verdadeira. Ela identifica a condição humana com uma precisão que nenhum modelo psicológico ou filosófico pode alcançar”.
A Bíblia e o coração humano
O pastor, que realiza acompanhamento de famílias em aconselhamento, ressalta como as Escrituras abordam dilemas universais de forma direta:
- Culpa: “Contra ti somente pequei”, confessa Davi (Salmo 51:4). A Bíblia não patologiza a culpa, mas a reconhece e, em seguida, oferece perdão (Romanos 8:1).
- Vergonha: Gênesis 3 retrata folhas de figueira e esconderijos. No entanto, o salmista assegura: “Os que olham para ele são radiantes; seus rostos jamais serão envergonhados” (Salmo 34:5).
- Medo: Desde o Éden, o ser humano declara “tive medo, então me escondi” (Gênesis 3:10). A resposta divina é presença: “Não temas, porque eu estou contigo” (Isaías 41:10).
- Esperança: Diferente do otimismo frágil, a Bíblia define a esperança como “âncora para a alma, firme e segura” (Hebreus 6:19).
- Amor: Não reduzido a uma emoção, mas definido por sacrifício: “Jesus Cristo deu a sua vida por nós” (1 João 3:16).
Cada um desses temas mostra como a Palavra não apenas descreve, mas também interpreta nossas dores mais profundas, oferecendo tanto diagnóstico quanto cura.
Quando a verdade confronta
De acordo com o pastor, a resistência às Escrituras raramente se origina de uma falta de evidências. “As provas históricas são esmagadoras. O que incomoda é que a Bíblia diz a verdade sobre nós com uma clareza desconfortável. Esperamos confirmação, mas recebemos exposição”, afirma. Ele observa que a Palavra frequentemente parece nos ler mais do que nós a lemos. “Ela desafia nosso orgulho e o desejo de definir o bem e o mal em nossos próprios termos. Por isso, abandonar a Bíblia pode parecer liberdade, mas é apenas trocar a autoridade de Deus pela nossa própria”.
A única verdade que permanece
A ironia, segundo Zucolotto, é que até mesmo a rejeição das Escrituras acaba por confirmar sua mensagem. “A Bíblia prevê nossa resistência e a interpreta em tempo real. Ela revela por que precisamos desesperadamente da graça que anuncia”. Portanto, a questão não é apenas se a Bíblia é verdadeira, mas por que essa verdade nos incomoda tanto. A resposta, afirma o pastor, reside na maneira como ela combina honestidade e ternura. “A Palavra identifica nossa culpa, vergonha, medo e vazio com uma precisão perturbadora. Mas, ao mesmo tempo, oferece perdão, proteção, presença, esperança e amor”, conclui.
Embora atualmente cada um seja convidado a criar sua própria verdade, a boa notícia é que você não precisa construir nada. A verdade já veio ao seu encontro.