Expressão Contemporânea Desafia Séculos sobre o Reino Comunhão

Expressão contemporânea desafia séculos de leitura sobre o Reino

Nos últimos anos, um novo termo tem ganhado espaço nas discussões teológicas e eclesiais: “Kin-dom”. Essa expressão, que deriva da ideia de “Reino de Deus”, busca redefinir a compreensão do conceito, enfatizando a noção de comunidade e parentesco em vez de um reino governado por um monarca. Este movimento tem provocado debates significativos sobre autoridade, comunidade e o sentido do Reino de Deus no mundo contemporâneo.

A mudança de uma palavra e suas implicações

A adoção do termo “Kin-dom” por algumas igrejas progressistas nos Estados Unidos, e sua crescente circulação no Brasil, reflete uma tentativa de se distanciar de uma linguagem que muitos consideram hierárquica e marcada por estruturas de poder masculino. Durante a Conferência Geral da Igreja Metodista Unida, a bispa Karen Oliveto trouxe à tona essa discussão, destacando a necessidade de uma linguagem que promova a inclusão e a equidade dentro das comunidades de fé.

A origem do termo

O conceito de “Kin-dom” foi inicialmente articulado pela teóloga hispânica Ada María Isasi-Díaz em seu livro de 1996, Mujerista Theology: A Theology for the Twenty-first Century. Embora ela tenha falecido em 2012, seu trabalho continua a influenciar teólogas e estudiosos que buscam uma leitura feminista da Bíblia. Entretanto, a expressão ganhou notoriedade a partir da freira franciscana Georgene Wilson, que, em suas aulas, apresentou “Kin-dom” como uma forma de descrever a experiência cristã como uma convivência familiar, unida pelo amor de Deus, ao invés de uma estrutura de dominação.

Por que a mudança é defendida?

Teólogas e estudiosos do cristianismo progressista argumentam que o termo “Reino” está carregado de referências históricas que remetem a masculinidade, colonialismo e militarismo. Para esses grupos, a mudança de linguagem é uma maneira de reimaginar as relações dentro da igreja, promovendo um entendimento mais inclusivo e horizontal de comunidade. No entanto, essa proposta enfrenta críticas, especialmente de setores conservadores, que veem a troca como uma tentativa de descaracterizar o ensino de Jesus e enfraquecer o significado bíblico do reinado de Cristo.

Controvérsias e debates

A principal objeção à mudança está enraizada em questões linguísticas e teológicas. A palavra grega basileia, que aparece nos evangelhos, se refere a governo, soberania e domínio, conceitos que remetem a uma autoridade real. Críticos argumentam que adotar “Kin-dom” em substituição a “Reino” cria uma visão sentimentalizada do evangelho, desviando-se do ensinamento original de Jesus, que, segundo eles, estabelece um relacionamento baseado na figura de um rei que governa, não em vínculos familiares.

A ressonância do debate no Brasil

Embora o termo “Kin-dom” ainda seja pouco utilizado no Brasil, as discussões em torno dele refletem transformações mais amplas na linguagem religiosa. Igrejas que buscam se alinhar com as tendências globais do cristianismo estão cada vez mais atentas à maneira como falam sobre o Reino de Deus e seu significado. Esse debate revela como mudanças no vocabulário podem refletir uma nova visão teológica, ao mesmo tempo que enfrenta tensões entre a contextualização cultural e a fidelidade ao texto bíblico.

Reflexões para o futuro

A adaptação da linguagem religiosa ao contexto brasileiro implica questionar como se fala sobre o Reino de Deus, o que se entende por autoridade de Cristo e qual linguagem pode melhor comunicar a fé às próximas gerações. A discussão sobre “Kin-dom” é mais do que uma simples mudança de termo; é uma oportunidade para repensar as estruturas de poder e as relações dentro da comunidade cristã, promovendo uma visão mais inclusiva e acolhedora.

Rolar para cima