
Por que não devemos “debater” com descrentes?
Compartilhar o Evangelho não é uma questão de vencer debates, mas sim de tocar corações por meio do amor, da paciência e da fé no poder do Espírito. Muitas vezes, a tentação de debater surge de um desejo de validação, fazendo-nos acreditar que estamos em ação. Contudo, a verdadeira força do Evangelho não reside em argumentos eloquentes ou em debates acalorados, mas na transformação silenciosa e poderosa que ocorre através do Espírito, que atua em quem fala com humildade e amor.
A verdadeira essência do Evangelho
O pastor Michael Wicker, de uma igreja no Texas, afirma que, em algum momento, muitos cristãos começaram a confundir a vitória em debates com a conquista de almas. Ele ressalta que o Evangelho não foi criado para ser empunhado como uma arma em um duelo de intelectos; ao contrário, ele deve ser oferecido como pão aos famintos. Essa mudança de perspectiva é vital, pois, muitas vezes, o que se vê nas discussões contemporâneas são mais brigas verbais do que testemunhos autênticos do Evangelho.
Wicker observa que a habilidade de argumentar muitas vezes supera a capacidade de ouvir. Ele faz referência ao ensinamento de Paulo a Timóteo: “Ao servo do Senhor não convém brigar, mas sim ser amável para com todos, apto para ensinar, corrigindo com mansidão os que se opõem.” Aqui, fica claro que, embora o debate possa educar mentes, somente o Espírito pode verdadeiramente transformar corações.
A barreira do entendimento espiritual
Wicker enfatiza que há uma barreira espiritual que o mero raciocínio não consegue romper. Um descrente pode até compreender conceitos teológicos, mas isso não garante que ele veja a beleza do Evangelho. Explicar a mensagem sem o toque do Espírito é como gritar para uma pessoa cega que olhe para a luz. A igreja primitiva não confiava em retórica para mover corações; ela confiava no poder do Espírito para fazer isso.
O apóstolo Paulo, em suas cartas, deixou claro que a pregação do Evangelho não era feita com palavras persuasivas, mas com demonstração do Espírito e do poder divino. Esse poder é o que transforma a vida das pessoas, não a habilidade de argumentar ou discutir.
Proclamação ao invés de performance
Quando os cristãos se concentram em vencer debates, eles frequentemente desviam-se do mandamento de Cristo. Wicker aponta que isso resulta em duas distorções: primeiro, o descrente é visto como um oponente em vez de uma alma a ser alcançada; segundo, a confiança muda da força divina para a retórica humana. Ele sugere que, enquanto a apologética pode preparar o solo, cabe ao Espírito plantar a semente da fé.
Além disso, Wicker lembra que “o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, mas é Deus quem resplandece em nossos corações.” Essa verdade sublinha a importância de buscar o auxílio divino em vez de depender apenas das nossas habilidades argumentativas.
Coragem com compaixão
A coragem necessária para compartilhar o Evangelho não deve ser confundida com gritaria ou confrontação. A verdadeira ousadia bíblica é caracterizada pela gentileza e compaixão. O exemplo de Jesus é claro: Ele desmontava os argumentos dos doutores da lei, mas era paciente e terno com aqueles que necessitavam de graça. Até mesmo na cruz, ao enfrentar seus inimigos, Ele optou pela oração em vez da discussão. Essa atitude demonstra a confiança na soberania do Espírito e a compreensão de que o objetivo não é vencer debates, mas testemunhar a verdade do Evangelho.
Quatro atitudes para a mudança
Para reorientar a forma como os cristãos se posicionam diante dos descrentes, Wicker propõe quatro atitudes fundamentais:
- Recuperar a humildade: É importante lembrar que nós não salvamos; Cristo é quem salva.
- Recuperar a gentileza: A gentileza pode desarmar hostilidades de maneira mais eficaz do que sarcasmo ou confrontação.
- Recuperar a dependência: A oração é capaz de realizar o que argumentos não conseguem.
- Recuperar a clareza: É fundamental manter o foco no principal: Cristo e Sua mensagem de salvação.
Ao trocar “argumentos por convite”, a Igreja poderá recuperar sua autoridade moral. O mundo já ouviu nossa indignação suficiente; agora, ele precisa ver nosso amor. A tentação de debater sempre estará presente, mas o avanço do Evangelho não ocorre por meio de inteligência ou debates acalorados, e sim pelo poder silencioso do Espírito. Portanto, é hora de trocar aplausos por arrependimento, microfones por ministério e debates por uma mensagem simples, mas fortalecida pela cruz.